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Mitos e Lendas

Mitos e Lendas

As histórias que fazem parte da alma da gente

Cambeses apresenta vário mitos, lendas e crenças que foram criados ao longo de séculos. Alguns destes podem ser descritos de maneiras diferentes, pois ao longo da sua história foram sendo criadas várias versões.

Em comum entre todas elas surge o facto de serem todas muito interessantes e que nos prendem a atenção desde o início até ao fim.

Muitas das lendas nasceram para explicar o inverosímil e o intemporal. São fruto da imaginação e da criatividade humana e integram a consciência coletiva.
As narrativas de Cambeses giram em torno de 4 núcleos fundamentais: o Castelo, Nossa Senhora dos Milagres, as Quintas e o Castro.

Mitos e Lendas de Cambeses

As lendas fazem parte da história dos povos e, por vezes, várias versões da mesma lenda, resultado de séculos de tradição oral das mesmas. E em Cambeses não é exceção.

As mouras encantadas são descritas como jovens donzelas de grande beleza e perigosamente sedutoras, que vivem em estado adormecido enquanto não lhe for quebrado o encanto.

Elas estão sempre ligadas a uma ideia de tesouro escondido e podem assumir diversas formas.

Em Cambeses, a Lenda da Cova da Moura conta-nos que:

“Lá para os lados do Monte do Castelo, existia, como o próprio nome o diz, um castelo onde moravam, em tempos antigos, os mouros. Quem morava à volta do local conhece a «Buraca / Cova da Moura»; as pias onde os mouros se lavavam, e o morro que encima o castelo, a que o povo chama de “Curinha” ou “Curunha” do Castelo. Há quem diga que os mouros subiam lá para cima para se divertirem. Outros dizem que eram as bruxas. Mas o certo é irem para lá com uma corneta, que tocavam quando avistavam alguém a aproximar-se. Nessa altura, formavam-se grupos dos dois lados, e aquilo era pedrada de todo o tamanho! Os mouros não deixavam lá entrar ninguém. Quando queriam sair, seguiam pela «buraca da Moura» até ao castelo da Lapela, por um túnel subterrâneo. Alguns afirmam que esse túnel ia até à outra margem do Minho.

Com o tempo desapareceram todos. Há quem diga que foi Santiago a expulsá-los. O certo e por lá ficou uma moura, sozinha, escondida na maior parte do tempo, aparecendo só pela manhã, quando penteava os longos cabelos ao sol.

Ora, dizia-se, que a Moura escondia tesouros fabulosos, mas era preciso desencantar a Moura e os tesouros para os conseguir trazer para casa. Sabiam os mais velhos que era preciso levar lá um arado com galinhas cangadas. Só assim o tesouro sairia de dentro dos penedos do castelo.

Um certo dia, uns homens da aldeia foram à mourama e levaram, ao cantar dos galos, dois galos cangados com um arado. Subiram ao castelo nessa companhia, na esperança de conseguirem o tão ambicionado tesouro da Moura. Os galos começaram a cantar, e, entre um barulho imenso, o penedo começou a abrir-se. Mas, de dentro do penedo só saíam cobras! Quanto mais o penedo abria, maiores eram as cobras. Os homens nem queriam acreditar no que viam. Cheios de medo, gritaram uns para os outros:

– Valha-nos Jesus Cristo!

E o desabafo apresentou-se como ordem de fuga. Largando galos e todas as pertenças, deram a correr, para bem longe dali. Mais tarde, quando um deles, o mais corajoso, foi ver o resultado, encontrou o penedo bem fechado, como sempre estivera no passado.”

“Quase” como uma ilustração à lenda existe no mesmo local uma gravura rupestre representando provavelmente uma serpente. É designado por Petróglifo de Cambeses e é considerado Património Arqueológico não classificado de relevância turística.

O petróglifo de Cambeses (cit. Neves, Leandro Quintas) é uma inscultura rupestre de aspeto serpentiforme situada no lugar de Milagres, freguesia de Cambeses. Esta inscultura encontra-se no cabeço constituído por monólitos de grandes dimensões que formam o morro conhecido por Castelo. Esta referência toponímica reporta-se muito provavelmente a uma atalaia medieval que aqui poderia ter existido, tal como era tradição no Entre-Douro-e-Minho nas alturas da Reconquista – os castelos refúgio. Uma prospeção no local permitiu-nos cadastrar a existência de cerâmica de construção moderna, mas também cerâmica medieval, provavelmente dos séculos IX/X, e um outro fragmento que parece indicar uma cronologia mais antiga (Bronze Final). O cabeço encontra-se, no entanto, muito arborizado, quer com vegetação rasteira quer pinheiros, facto que dificulta uma melhor prospeção da área.

Este santuário foi construído no lugar de uma antiga ermida, no século XVI, entre 1595 e 1602. Insere-se na arquitetura religiosa Maneirista de planta longitudinal, composta de nave única e capela-mor.

A sua edificação remonta ao século XVI tendo sido fundado pelos Pereiras de Castro, da casa do Sopegal, em ação de graças por milagre recebido por um filho do morgado.

Na frontaria da capela está uma pedra de armas, escudo oval esquartelado, com os campos Pereira, Costa, Velho e Taveira. Por baixo desta, três nichos com as imagens de Nossa Senhora, S. Mateus e S. João Evangelista. Na parede nascente, um escudo português esquartelado, com os nomes de Pereira, Lobato, Castro e Lanções e um azulejo com a imagem de Nossa Senhora, com a seguinte inscrição: “1940 – Virgem Maria Senhora Nossa foi concebida sem pecado original”. Nos cantos superiores desta parede, as imagens de S. Pedro e S. Paulo.

O interior do santuário é riquíssimo, com um precioso relicário, quadros de grande valor do primitivo retábulo e magníficos altares em talha barroca. O teto é pintado com cenas da vida de Nossa Senhora. A capela-mor é coberta com caixotões de pedra.

O teto da capela lateral é de madeira, pintado com cenas da vida de Cristo e ostenta um retábulo em talha dourada com os doze apóstolos e figuras em relevo. Reza a lenda que o nome do Santuário, dedicado a Nossa Senhora dos Milagres, foi o escolhido pelo povo para premiar o acontecimento que esteve na origem do mesmo:

 

“Havia uma senhora fidalga, de nome Eulália, que tinha esmero na educação dos filhos. Um dos seus filhos, Damião, era uma criança alegre e brincalhona, como todas as crianças de tenra idade. Mas ele parecia ultrapassar todos nas brincadeiras, chegando, por vezes a exceder-se. Bem a mãe, sempre em sobressalto, procurava conter os seus entusiasmos, mas ele não parava de fazer as maiores tropelias. Num certo dia festivo organizou a família Pereira de Castro um jantar de cerimónia, para o qual convidou os amigos e familiares mais chegados. Estavam todos à mesa, quando Damião resolveu pegar numa das pontas da toalha e puxá-la com tal força que lançou ao chão tudo quanto estava em cima da mesa! D. Eulália nem queria acreditar. Desesperada pelo incómodo da situação, num gesto irrefletido, gritou-lhe bem alto, para surpresa de todos: – Malvado (MALDITO*) tu sejas! Que fiques tolhido toda a vida de pés e mãos! A verdade é que a criança ficou, desde esse dia, paralisada de pés e mãos! Ao ver o que aconteceu ao seu filho, D. Eulália sentiu que o castigo de Deus tinha caído sobre si. Arrependida e perseguida pela culpa, levantou as suas preces aflitas para a Mãe de Cristo, suplicando pela cura de seu filho. Em troca de tal benesse, a fidalga prometeu que mandaria construir uma igreja como não havia maior pelas redondezas. O arrependimento e a dor eram grandes, mas a fé era ainda maior. As preces de D. Eulália foram ouvidas e o menino recuperou todas as suas forças. Milagre! Foi a palavra que mais se ouviu na boca de todos. E foi assim que se cumpriu o prometido, com a construção do Santuário onde hoje todos veneram a Senhora dos Milagres, como memória da sua proteção.”

Desde então que o Santuário passou a ser visitado por muitos peregrinos do Alto Minho e da Galiza, atraídos pela fama dos milagres que nele se realizavam. Atualmente, neste Santuário celebram-se duas romarias anuais: da Nossa Senhora dos Milagres a 8 de setembro e de Santo Amaro a 15 de janeiro.

Sobre a formação da Quinta ouvimos falar na lenda do “Cavaleiro Branco”.

Diz-se que em tempos memoriais, os feitos de cavaleiro audaz – Cavaleiro Branco – foram recompensados com a doação de terras. Então foi-lhe dito que ficaria com a posse das terras que ficassem situadas dentro do perímetro que, durante uma hora, conseguisse percorrer, montado no seu cavalo branco. É por isso, dizem ainda, que a Quinta é toda vedada.

Diz-se que há muito tempo atrás, a Quinta de Sende tinha um grande privilégio, privilégio esse que quando algum preso fugisse da cadeia se ele fugisse pra a Quinta de Sende não poderia ser preso de novo.

Dizem que houve um preso que fugiu e que os guardas vieram atrás dele. Só que, quando o apanharam, estava a subir o muro da Quinta de Sende, proclamando este as seguintes palavras “Valha-me a Quinta de Sende”. E como ele já estava no recinto da Quinta, não pôde ser preso.

São duas as narrativas encontradas acerca desta Quinta
1ª – Diz-se que Calisto de Barros Pereira ensinava a tocar órgão. Diz-se também, que foi ensinar uma rapariga rica e que se apaixonou por ela. Depois de casados voltaram para a Quinta do Carregal, onde ficaram a morar.
A rapariga era rica e não se sentia bem com a vida campestre porque estava habituada a grandes luxos e a casa da Quinta era uma casa simples, possuindo apenas o essencial para os trabalhos agrícolas além de serem donos de uma grande fortuna pois possuíam uma Quinta e, naquela época, os campos valiam muito dinheiro.
Por várias vezes abandonava a Quinta e ia viver com os pais por uns tempos.
Calisto, aborrecido com esta situação, disse à esposa que o melhor era ela ir viver com os pais durante um ano e, no final desse ano, ela voltaria e ele lhe mostraria qual era a sua riqueza, isto porque nas discussões do casal havia a rivalidade da riqueza e ele não queria sentir-se inferiorizado.

Durante esse ano, Calisto deitou a cocheira abaixo e construiu a capela de S. Bento, o Cruzeiro do Carregal e, no caminho que ia do cruzeiro até à capela, construiu 12 músicos de pedra, 6 de cada lado.
A casa tinha sete criadas. Quando a mulher chegou ele disse-lhe:
– Aqui está o que sou, aqui está o meu sangue, mostra-me o que és. Ela agarrou-se a ele e disse-lhe que nunca mais o deixava.
Um senhor chamado Viana, que residia em Moreira, sabendo da existência de libras que se encontravam num dos armários da capela, pediu que lhe deixassem ir à capela ver as pinturas porque ele era pintor. Fechou-se então na capela e roubou-lhe as libras de ouro.

2º – Dizem que o dono casou com uma senhora de Trás-os-Montes, talvez Vila Real. Esse senhor mandou a sua esposa de volta e mandou contruir o muro e o brasão para lhe fazer uma surpresa quando ela regressasse.
Diz-se também que há uns 200 anos, uma menina bonita, filha de um conde, queria casar com um conde espanhol, mas o pai não querendo, enterrou-a viva com os seus ouros no local da capela.
Existia também uma passagem (corredor de vidro) entre o coro da capela e o muro, em direção à casa solarenga. Essa passagem está hoje meio destruída. Aliás diz-se que algumas pedras serviram para a construção de uma casa na vila de Monção. As senhoras da casa vinham à missa por esse corredor para não serem vistas.

Desde então que o Santuário passou a ser visitado por muitos peregrinos do Alto Minho e da Galiza, atraídos pela fama dos milagres que nele se realizavam. Atualmente, neste Santuário celebram-se duas romarias anuais: da Nossa Senhora dos Milagres a 8 de setembro e de Santo Amaro a 15 de janeiro.

De âmbito Familiar

Quando os partos eram difíceis, rezava-se a Nossa Senhora dos Milagres e davam-se três badaladas no sino do Santuário para que todas as pessoas rezassem pelo bom êxito do parto. Ou, então, iam buscar o manto de Nossa Senhora, com o qual cobriam a parturiente, davam 9 badaladas no sino e as pessoas rezavam uma Salve-Rainha, em cada uma das badaladas.
Nos dias que se seguiam ao parto, a mãe era visitada por familiares e vizinhas que lhe ofereciam arroz, açúcar, trigo e uma galinha.
A parturiente era alimentada, fundamentalmente, com caldo de galinha cozida. Cada dia matava-se uma galinha. Até se dizia que as parturientes deviam comer sete galinhas e beber bom vinho para dar muito leite.
Devia ter-se muito cuidado para que os ratos não levassem o resto do cordão umbilical que, depois de apodrecido, caía. Se isso acontecesse, dizia-se que a criança ia dar em ladrão.
Era costume, também, guardar-se, sem lavar, a primeira camisa usada pelo bebé.

As crianças eram batizadas nos primeiros oito dias de vida. Noutros tempos, se esse prazo fosse ultrapassado, os pais pagavam uma multa, segundo dizem os mais antigos.
Na Páscoa, os padrinhos davam aos afilhados, como folar, uma “peça” de trigo.
Ao Reitor, no dia do baptizado, ofereciam arroz, açúcar e um frango.

O anúncio e convite para a cerimónia religiosa e para a boda era feito pelos noivos aos seus familiares (eram estes, normalmente, os únicos convidados), a quem ofereciam uma quarta de quilo de doces sortidos. Daí o ato de ser conhecido como o “levar os doces” ou “entregar os doces”.

O casamento celebrava-se sem grande aparato, ao sábado ou domingo de manhã, preferencialmente, porque todos tinham de ir em jejum para o casamento, para comungar, quando a lei do jejum obrigava a estar sem comer da meia noite até à comunhão. No fim da celebração, a noiva (se era virgem) oferecia um ramo de flores a Nossa Senhora.

Após a cerimónia de casamento, à saída da igreja, os noivos eram brindados com flores (brancas ou vermelhas, conforme o estado da noiva). As crianças e adultos, que compareciam em grande número, eram brindados com doces, amêndoas e confeitos. Entretanto a “criançada”, numa tentativa de encher os bolsos, disputava, deitando-se ao chão, as amêndoas e os confeitos arremessados ao ar pelos convidados e acompanhantes.

Os convidados davam aos noivos prendas em géneros, tais como: galos, arroz, açúcar, esparguete. Costumava dizer-se que “quem vai à boda, leve que coma”. Comia-se em casa dos pais da noiva, pois os convidados não eram mais de 25 ou 30 pessoas.

Há uma crença bastante arreigada no anúncio antecipado da morte, através de alguns sinais, tais como: visões, toques do sino, brincadeiras das crianças ou pela voz dos animais:

– Visões ou “vigairos” – dom especial de que algumas pessoas se dizem possuidores e que veem antecipadamente a morte das pessoas.

– Toque do sino – quando, ao tocar à reza, o som do sino é longo (diz-se que “está lambão”) ou quando o toque do sino se junta com as horas do relógio.

– Através das crianças  – quando as crianças andam aos pontapés às latas (caçarolas) ou a brincar com panos no ar, a fazer de bandeiras.

– Através dos animais – o uivar prolongado dos cães à noite; o cantar do mocho; o canto noturno da coruja.

Crenças

Na noite de Natal, costumava colocar-se, sobre uma mesa, 12 cascos de cebola, simbolizando os doze meses do ano, da esquerda para a direita e em cada um colocavam uma pedra de sal do mesmo tamanho. No outro dia de manhã, verificava-se o resultado e fazia-se a leitura. Os meses seriam mais secos ou molhados, consoante a quantidade de sal derretido.

Ainda na véspera, antes do pôr do sol, colocavam-se as maias (ramos de giestas) às portas de casa e das cortes dos animais para impedir a entrada do diabo.

No dia da ascensão do Senhor, 40 dias após a Páscoa, entre o meio dia e a uma hora, vai-se ao campo apanhar um raminho de oliveira, umas espigas de trigo ou centeio e uma papoula para guardar em casa, para que o ano seja farto.

Dizia-se que no dia de S. João, de manhã, se devia lavar o cabelo com trevo e água fresca para que o cabelo crescesse. Outra variante dizia que devia ser utilizada água fervida com rosmaninho

– Não se deve varrer a casa para fora, depois do pôr do sol
– Não cruzar as facas porque dá azar
– As pessoas não bebiam pelo mesmo copo para que não soubessem os seus segredos
– Quando duas pessoas bebem vinho ao mesmo tempo, diz-se que morre a mais velha
– Entornar vinho dá alegria
– Entornar azeite dá azar
– Partir louça dá azar
– Não é bom por o dinheiro em cima da mesa
– Chovendo ao sair da missa, ao domingo, chove todo o dia
– Apontar para as estrelas faz cravos nas mãos
– Para curar o sarampo. Vestiam as pessoas de vermelho e punham um pano vermelho à janela

– Abril molhado é bom pró pão e bom pró gado
– A chuva de S. João tira o vinho e não dá pão
– Ao menino e o borracho, põe Deus a mão por baixo
– Calça branca em janeiro sinal de pouco dinheiro
– Cão que ladra, não morde
– Casa onde não há cão nem gato é casa de velhaco
– Com pão e vinho já se anda caminho
– Casa onde não há pão, todos ralham, ninguém tem razão
– Em abril águas mil
– Em janeiro até os cães pedem dinheiro
– Em abril sai do covil
– Entrudo ao “soalheiro”, Páscoa no borralheiro
– Fevereiro quente traz o diabo no ventre
– Guarda que comer, não guardes que fazer
– Há vento que rega e chuva que queima
– Maio chuvoso faz o ano formoso
– Manhã de nevoeiro, tarde soalheiro
– Na casa de ferreiro espeto de pão
– Pelo S. Martinho, prova o teu vinho
– Quem canta, seu mal espanta
– Quem semeia ventos colhe tempestades
– Vê-se na aragem quem vai na carruagem
– Quem muito escolhe, pouco acerta
– São Tiago pinta o bago
– Vinho no lagar e favas a semear

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